terça-feira, 23 de abril de 2013

Mães do mundo inteiro uni-vos!

-Dá um beijinho e pede desculpa.
Façamos um “puxa a cassete atrás”…
Ouça-se o som de uma bem puxada bofetada. Daquelas que na banda desenhada têm uma onomatopeia “SLAP!”; das que ferem tanto a bochecha quanto o ego.
O que faz a mãezinha do esbofeteador?! Diz: “oh… vá, dá um beijinho e pede desculpa.”
O quê?! Nada disso. Não basta o ego estar colado ao chão, a bochecha estar dorida e ainda se leva com uma beijufa do pequeno Judas?

Mães do mundo inteiro uni-vos!
O castigo é uma instituição com resultados fantásticos. Uns minutos no cantinho da sala, não comer a sobremesa, a não ida ao parque, sei lá eu!? Mas um beijo na cara daquele que acabou de presentear com uma bofetada cheira-me a prémio.
E crescemos assim: a achar que um beijinho e um pedido de desculpas bastam. E crescemos assim: a enchermo-nos de pequenas desilusões porque não nos protegem destes disparates.
Todos damos, todos apanhamos.
Somos ronronadores gatos e violentos tigres. Mas não nos façamos Judas. Mais, não criemos pequenos Judas nos nossos colos, com as nossos remendos.
Hoje a bofetada saiu, amanhã chegará.
Deixemos o beijo para a coisa boa, para a dor provocada por outros, para a alegria que se partilha, para o sincero cumprimento. Não lambuzemos a cara de quem, tantas vezes propositadamente (porque o dia foi mau, porque estava a jeito, porque se acumularam rancores, só porque sim) agredimos.
Protejamos pois os nossos: a quem orgulhosa e carinhosamente chamamos príncipe e princesa, para quem queremos o melhor, de quem cuidamos com o zelo porque sabemos serem as pessoas mais importantes na nossa vida destes rotos remendos que nos tentam impor todos os dias.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

SE...gestões #1

SE essa cabecinha não respeita a minha, o que faz esse corpitxo perto do meu?

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

É óptimo isto de não saber quando vamos morrer. A guilhotina sustentada por areia de ampulheta é coisa para deixar qualquer boa alminha em freniquitos.
Eu tenho a mania que não sei se acordo no dia seguinte. Bem, não penso nisto todos os dias, caso contrário a minha vida era a verdadeira maluqueira. Mas confesso que tenho sérias dificuldades em pensar a longo prazo.
Quando me ponho a matutar sobre estas matérias (de elevado interesse para gente como eu), dou conta que se soubesse que estes olhinhos não veriam o sol amanhã muita coisa ficava por dizer, outro tanto por fazer.
Quando a "Verónika decide morrer" permitiu-se prazeres que até então ignorou ou, até aposto, calou dentro de si. Foi só dar-lhe um prazo e era vê-la a ser feliz.
Hoje vi um filme sobre isto: a areia da ampulheta a escorrer.
No meu estado não deveria pensar, muito menos expressar estas coisas. A meia dúzia de dias de dar ao mundo uma vida que carrego e a pensar em prazos e morte?! Pois que o que me fez escrever estas linhas (mal ajambradas) foi mesmo a Vida.
E se eu fizer de conta que já ouço o tic tac e resolver fazer e dizer o que consta na lista? - Mal não há-de fazer.

Na verdade, fico bem contente por não o ouvir. Talvez alguns dias me saibam a pão da véspera, outros têm sabores mais exóticos, mas a tonta (in)certeza do poder acordar no outro dia e saber que bem perto estão aqueles que me fazem dormir contente, preserva-me a alma dos freniquitos de agonia.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O amor não pede licença, não faz cerimónia. Instala-se e convive paredes meias com tudo o que por cá dentro andava. Com tudo o que foi semeado, que cerimoniosamente foi entrando.
O amor não precisa de porta aberta nem de janela encostada. Entra desavergonhadamente sem pedir licença. Instala-se e damos mais de nós, somos mais de outros. O mundo passa a ser casa de quem tem amor.
Uma vez vi o amor entrar numa vida. Como todo o amor, entrou e não se anunciou; foi sentido como os ventos da Bolanha (despertam dias, adormecem cansaços).
Dessa vez vi a vida com amor. Coisa não anunciada, mas tão bem amada.
A falta de modos do amor faz a vida mais prazenteira. Dias que correm, conversas em tons cereja, beijos de olhos fechados e abraços.
O amor não pede licença, não faz cerimónia. Instala-se, mas nem sempre pousa a mala. Convive com tudo o que por cá dentro andava, transforma parte e parte.

A vida entra cerimoniosamente num outro compasso.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Mini-Crónicas de uma criatura com três palmos

Fechou a porta com a doçura que lhe era natural.
Encostou-se, deixou-se escorregar. Cena de cinema de domingo à tarde.
Tal criatura não se podia dar à vulgaridade de protagonizar cena de filme para massas.
Levantou-se, limpou a cara como se só o vento a tivesse feito chorar.
O frio foi carrasco dos braços nus e dos pés descalços.
Ficou ali. Deixou que a noite a castigasse. Abraçou-se. Soluçou baixinho e engoliu a vontade de mal dizer da vida.
Escolheu a lua grande e branca para lhe adivinhar pensamentos.
Sacudiu a ousadia de se sentir triste e sorriu de pirraça para o céu.

domingo, 24 de abril de 2011

Dos abraços e revoluções

Li hoje o que há muito tenho pensado.
Não é texto científico baseado em experiências de laboratório e dissecação de relações. Parece não ser mais do que uma constatação em jeito de desabafo. Talvez uma mensagem guardada numa garrafa que se sabe vai ser aberta por alguém. Por um certo alguém.
Falava de abraços, de amor, de maturidade. De gente madura que ama e abraça. Aconchega. Cuida. Da entrega amante e amorosa de quem estende os braços e os fecha envolvendo o corpo de quem estima, de quem quer, de quem deseja, por quem suspira, por quem, muitas vezes, acha que respira.
Dei por mim a querer iniciar uma revolução que se inspira nestes abraços. Quis correr à rua e colher magnólias, rosas vermelho sangue, margaridas brancas ou violetas.
Quis encontrar mais gente capaz de achar que amar é muito mais do que co-habitar, que amar é olhar, e mais do que olhar, ser capaz de ver, capaz de romper estridentes silêncios para gritar sentimentos, que é esquecer pequenas dores para sarar feridas alheias, é soprar nuvens. Pegar nessa gente e iniciar uma revolução.
Depor o regime da cruz que se arrasta, do silêncio que se atira ao outro em jeito de tortura doméstica, da arrogância da mão não estendida, dos braços que jamais abrem, por isso jamais envolvem, da cegueira e da surdez a que tantos se recolheram porque acham que dormem com o inimigo.
Somos muito do que vivemos, do que ouvimos e do que lemos.
Enquanto junto esta dúzia e meia de palavras ouço uma canção que fala da saudade e da distância, do convite para que alguém entre, provavelmente também abrace, uma confusão(que se é). Juntei-lhe uma outra que relata a história de um amor capaz de mudar mundos, invadir almas, desses amores de quem se abraça, se entrelaça, se acha graça.
Guardo a não secreta esperança que esta garrafa seja aberta. Que se não esmoreça esta minha vontade de abraçar e ser abraçada.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Os autistas da vida


A minha vida não é muito comprida, nem sequer posso dizer comprida. Não é intensa e mirabolante no número de coisas que já fiz. Fiz algumas. Muitas das que queria mesmo fazer, algumas das que dispensava.
Na minha vida interesso-me muito pouco por coisas. Vá-se lá saber porquê!?!
Do que eu gosto genuinamente é de pessoas. Mas o estranho é que o que me irrita mesmo também são as pessoas.

Há pessoas de quem gosto muito. E gostar muito é pouco.
Convivo com pessoas a quem apenas tolero.
Há uma ou outra que comecei por tolerar e hoje gosto. Enfim, há de tudo!

Bebo pessoas, bebo das pessoas. Ando embriagada de gente, e não entendo a vida a ressacar.

Faz-me confusão, às vezes quase comichão, a bolha em que certas pessoas vivem. Aqueles a que chamo os autistas da vida. Os que desconversam para voltar a falar deles, os que não olham nos olhos, os que te perguntam se estás bem e não esperam pela resposta. A unha encravada desta gente doi mais do que o dedo decepado do amigo. O chefe exigente é mais cruel do que o desemprego do vizinho. E monologam despreocupada e egoisticamente (haverá palavras que existem única e exclusivamente neste espaço de criação, pois aproveitai estas pérolas).
Vivem pois na solidão. Poucos há que aguentam muito tempo estes eternos enamorados pelo espelho.
Não os quero mudar, mas não me obriguem a ouvir contar pela milésima vez o probleminha quotidiano e na conversa patinarem no meu nome, porque não se importam com quem os ouve, o necessário é ter plateia.