quarta-feira, 29 de julho de 2009

Mãe, só há uma! (e tem gás)

-Oh Rafael, Rafael, RafaEEEEEEL! Rafael, não ouves a mãe a chamar-te?
Eu lá travei o pequeno mesmo à porta da escola.
Lá vem a mãe furiosa em perigosa perseguição. O meu coraçãozito apertou-se e só me ocorreu:
-"O meu também é assim. De vez em quando faltam as pilhas nos ouvidos"
Ufff... o Rafael escapou do chapadão adivinhado. Mais calma a mãe podia explicar-lhe quão perigosa podia ser a sua valentia e ousadia.
Entrámos no carro e fizemos planos para o lanche.

Durante o banho o meu pimpolho fazia belas acrobacias dentro de água. -Papá, olha só p'ra isto! E olha eu a fazer mais isto. E olha isto!?! Ah! É verdade! Quando formos às compras temos que comprar pilhas.
-Pilhas? Precisas de pilhas?
-Xim. A mamã disse à mãe do Rafinha que eu às vezes tenho os ouvidos avariados.

Dose de humor tardio. Isto só lá vai com um golinho de água. -Mãe, só há uma! E tem gás!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Para os 4 anos do meu filho


São tantas as coisas que tenho para dizer que me custa escolher a primeira.

Já escrevi e apaguei mais do que muitas vezes, já tive um conjunto de frases perfeito na minha cabeça que entretanto substituí por aquelas que apaguei.

Escrever qualquer coisa para o meu filho é muito dificil, tem sido teimosamente dificil escrever qualquer coisa para ele, sobre ele. É a música que fala dos olhos dele que não passa da primeira frase, é o textinho para o quadro de cortiça do quarto que nunca passou da primeira letra.

Penso que não ter inspiração à altura de tamanho amor e outros sentimentos. Não não tenho. Queria ter um dia o brilhantismo de saber descrever os olhos, o sorriso, o brilho, esta infinita capacidade de amar para além do amor, de compreender o que nos outros desentendo e o dar colo mesmo em dias de pouca força.

No outro dia apagou quatro velas de um bolo cor de céu,decorado com nuvens brancas fofas e doces e balões de muitas cores. Todos, mesmo quem cá não está, cantaram para ele. O meu coração de mãe agigantou-se e transformou alguns sonhos em realidade. Mas só alguns, porque é muito bom sonhar.

Encontrei estas palavras de alguém que sabe o que eu sinto, não sei como é que ele sabe (?), sei só que ele sabe.

"Carta para meu filho Madyo Dawany
Hoje cheguei e não havia o teu sorriso reconfortando-me. Fiquei triste e sem coragem como se fosse do teu tamanho, assim pequenino. Não é possível tu estares comigo e isso rouba-me o coração.
Este desejo de te querer junto a mim é um desejo egoísta, eu sei. Quero isso mais por mim que por ti. Quando te escrevo é mais para mim do que para ti.
Faço-te esta confissão de egoísmo para que saibas, meu filho, que te amo de todas as maneiras que sei amar. E mesmo assim sinto que não sei amar, que me falta estar vivo. Saberás do que falo quando desvendares alguns mistérios do mundo. Assim crescerás à medida do teu sonho. Quero que respeites esta insuficiente maneira de amar dos homens do meu tempo. E que ames tudo aquilo que os homens antes de ti construíram por amor a outros homens, mesmo que o tenham feito incompletamente. E que recordes que por trás de cada coisa transformada há sempre uma gota de sangue: tudo resulta da luta, mesmo que essa luta tenha sido apenas interior e aparente.
Sentirei que a minha vida se desdobra como a onda que mesmo desfeita se renova. Sentir-me-ei como a onda que sabe que depois de desfeita se prolongará no eterno movimento dos homens lutando e construindo por amor aos outros que nem sequer conhecem." Mia Couto

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Raios e coriscos

Quando criei este espaço de expressão, criei-o com a vontade imensa de escrever frequentemente.
A auto censura, o meu próprio lápis azul tem sido o meu mais terrível, e único, diga-se de passagem, inimigo.
O meu filho fez quatro anos, escrevi, apaguei, escrevi, apaguei, escrevi e guardei escondida qualquer coisa para ele. Tenho tido alguns bons momentos para partilhar, no entanto, não me tenho permitido "blogar". Ora por falta de tempo, ora por falta de inspiração, ora porque tenho pudor das ideias que pululam nesta cabecinha ajubada, ora bolas!

Sei que melhores dias virão. Sei que um dia esta vergonha vergonhosa vai ficar na gaveta no lugar das coisas que tenho escrito.
Desejo profundamente que isto seja uma curta "silly season"e que a sensatez tenha ido a banhos mas volte retemperada e musculada.

Não ponho o cartãozinho do "volto já". Tenho aqui um bem melhor: "Oh idiotice, vai-me à loja!"