sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Pensamentos profundos de Dona Mindinho


Tenho para mim que as relações entre as pessoas padecem exactamente do mesmo problema de que se ressente o comércio: andamos a importar muito produto chinês e a preterir o produto nacional.
Desculpamos a falta de qualidade com o baixo preço. Anda aí muita gente a engolir elefantes por alguém que conheceu na véspera e incapaz de relevar uma falhita de quem já lhe limpou o rabiosque.
Menos produtos baratos e cheios de defeitos, mais gente que realmente gosta de nós!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Pic Nic


Médico - E ele tem tido apetite.
Mãe - Sim. Mantém o apetite.
O pequeno lembra-se da lancheira e saca do seu leite com chocolate e do seu pão com manteiga. Estende o guardanapo na secretária do pediatra e toca a lanchar. O médico ri-se à gargalhada e a mãe cora. Olha com aquela cara de: podias ter esperado uns 2 minutos e o filho entende: devias ser bem educado e oferecer.
Estica os dois braços para o médico e:
- Oh sr. doutor, tu queres um pedacinho?
-Não, já papei o meu. Faz bom proveito.
-Mamã, ele é grande e diz papei!

Mais palavras para quê? Tragam água. Mãe, só há uma. E é da torneira.

Genética

-Mamã, sabes que há um museu nos estados inidos que se chama luvro?
- Não é bem assim. Estados Uuunidos, a terra do Obama. É em Paris, que é uma cidade francesa e é o museu do Louvre.
-Mamã, somos mesmo espertos!

Golinho de água para mãe sem palavras com tanta sabedoria. Mãe, só há uma. E é fresca.

Um poema com caracóis


Passei pelo sofá onde estava o meu rapazito numa posição estranha.
Pergunta em tom de reprovação: O que fazes assim todo torto?!
Resposta: Estou a ser um arco-iris.

E pronto. O dia não foi igual aos outros.
Um copinho de água para mamã babada com o seu menino. - Mãe, há só uma. E tem gás.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Dona Mindinho responde

"Querida Dona Mindinho, como devo tratar a minha namorada: uma lady ou uma louca?" Marco Paulo, 25 anos.

Marco, minha boa alminha, a mulher quer que o homem a trate como uma princesa, mas que não se intimide diante da mulher."

Dona Mindinho responde

"Querida Dona Mindinho, quero saber do que é que as mulheres gostam." Jorge, na casa dos 30.

Jorge, minha boa alminha, as mulheres gostam de homens que não façam como as marcas brancas que copiam o produto, pouco investem na embalagem, servem uma coisa com sabor a outra.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Colaram os ponteiros daquele relógio. O calendário tem só uma folha. Os dias correm sem correr, cansam-se ao nascer.
Os olhos não se olham, mesmo quando as bocas se beijam. Colaram os ponteiros daquele relógio e não há hora de sair ou entrar, é sempre hora de ficar. Os dias cansam-se ao acender.
O bule fumega na varanda fria. O vento esqueceu-se de aquecer. É hora de ficar, mesmo para quem já resolveu correr.

sábado, 25 de setembro de 2010

Para minhokinha

Resolveu partir. Disse Adeus. Não posso dizer que respeito, aceito ou outra coisa qualquer, dessas que se dizem quando as pessoas fecham ciclos.
Vejo-a fechar o ciclo e (quase)calo a vontade de a fazer permanecer ali, onde bebo histórias, rio com personagens, cheiro muitos lugares de onde sinto saudades.
Releio fábulas, sorrio com crónicas e matuto em meia dúzia de pessoas. Sinto aquela falta quase aguda dos primeiros dias de adeus.
Mas vim cá dizer que gostei muito, que muitas palavras animaram horas dos meus dias, que tantas personagens me levaram à gargalhada, que suspenses me fizeram acelerar a respiração. Isto também é viver.
Ao pequeno e adorável verme o meu obrigada.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Deitou-se na cama
Os corpos juntos, sem dizer nada.
Ela sentiu-lhe o cheiro
De terra seca, aos grumos, ervas daninhas e flores silvestres.

Não conseguiu adormecer
Reconheceu culpas naquela pele abandonada.

Coisas da vida

Os dias passavam e as não palavras reafirmavam a paixão.
Ela lambeu-lhe feridas que não fez, ele sorriu vida quando voltou a viver. Ela abraçava-o, e ele, bem ele ficava seguro e sereno na grandeza dos braços pequenos com que era envolvido. Ela não quis gostar dele, ele quis muito gostar dela. Ela acabou rendida a um mundo em obras, ele construía um mundo novo com ela (no horizonte).
As não palavras juntaram-se e uma noite, na frenética confusão da multidão, entre suores de outros corpos, entre músicas de outras vidas, ele ajoelhou-se aos pés dela para a cortejar. Riram muito, deram beijos de filme e apalavraram os sentimentos.
Não viveram juntos e felizes para sempre. Nunca se cansaram, o tédio não tomou conta deles. Há sempre uns alfinetes que furam nuvens.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Por quem riem meus olhos

(...)Precipitaram-se sorrisos e uma quentura na alma que desconhecia.
Passaram-se dias, semanas e meses. Teve tempo de medrar as esperanças, as dúvidas e a certeza de amar sempre e para sempre. É qualquer coisa que não se explica.
E nasceu. Deu-o ao mundo sem que ele quase lhe rasgasse a carne, viu-o sujo das suas entranhas mas cheirou-o quente de amor.
E nesse dia em que o sentiu nos braços, adormecendo-o do cansaço da luta pelo mundo deu-lhe um nome dos homens, mas acreditou que recebia um presente dos deuses.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Hoje fo(i) dia santa. Hoje fo(i) dia di graça. Quem criou o mundo fo(i) Deuss

Vou tentar que o texto não tenha muitos insultos. Prometo.

Adiei até agora estas minhas linhas. Achei que só eu andava chateada com o festim que se tem montado neste meu país. Afinal não. Encontrei um ou dois descrentes nisto de parar um país para receber um homem.
Ah porque é o sucessor de S.Pedro, ah porque é o representante da Igreja Católica. Ah que eu nem vou discutir isso para não nos chatearmos todos aqui e agora.
Porque o senhor é um chefe de Estado. Ok, estamos a falar a minha lingua. Então este senhor que chefia um estado deve estar a par das notícias de que andamos todos com a corda na garganta, que alguns até já resolveram tirá-la da garganta e amarrá-la na zona da cintura porque a bela da calça já não se segura. O senhor chefe de estado sabe bem que nestes três dias vamos penhorar algumas pratas para o presentear.
Que se receba bem quem vem por bem, muito de acordo. Mas que não nos façamos de primeiro mundistas no receber se somos bem menos no sobreviver.

Que a FÉ não se discute eu respeito. Tenho a minha: na Vida, nos Homens e reconheço Jesus Cristo como exemplo a seguir. E porque O respeito parece-me tão pouco apropriado estes dourados dos pratos e o encarnado dos sapatos prada.

E que sorte tenho eu de já não se queimarem bruxas na fogueira.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O presépio, ou a história de um menino com imaginação adubada

Antes de contar a pérola da minha cria, peço desculpa: este blog está a tornar-se numa espécie de compilação das gracinhas do pequenito. Mas quem tem a sorte de ter um rapazinho esperto e doce com frases destas tem mesmo que partilhar. Pois então cá vai.

- Mamã, é o presépio.
-Sim. E quem está aí?
- Jesus, Maria, o pai e a vaca.
- E sabes por que comemoramos o Natal?
-São os anos de Jesus.
-E sabes por que se comemoram os anos de Jesus?
-Não.
-Porque ele foi muito importante no tempo dele... (Fui interrompida a meio de uma lição sobre humanismo, fraternidade, solidariedade - até ouço os sininhos e músicas bonitas dentro da minha cabeça)
- Pois é, a Maria quando o tinha na barriga andava muito curiosa para saber se ele ia nascer com 1 ou mais dentes.

Imaginação em constante rebuliço fervilhante do meu pimpolho, acho que isto merece um golinho de água. -Mãe só há uma, e é fresca.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Um caderno com sentimentos

-Mamã, encontrei o meu caderno. Vou escrever. Onde está a caneta?
-Na cozinha, na latinha das canetas. Não faças asneiras.
-Não. Vou escrever muito. Pronto, acho que vou escrever o meu nome.
(Breves minutos depois)
-Jó, onde estás?
-A brincar com os Gormiti.
-E onde está a caneta?
-No meu quarto.
-E o que faz a caneta no teu quarto, se o lugar dela é na lata das canetas que está na cozinha?
-Mamã, a caneta faz companhia ao meu caderno que estava sozinho e triste.

Com um menino que tem respostas mais calóricas do que mil bolas de berlim com creme preciso de uma água. - Mãe, só há uma, e tem gás!

sexta-feira, 19 de março de 2010

Não há pai para o meu pai - versão pequeno infante

-Jó, viste o pai do Kevin e do Edson? Era muito alto, não era? (Um senhor com o seu 1,92m)
-Sim, mas o meu pai é maior. O meu pai é enorme! (Um senhor com 1,80)
-Ai sim? Achas que o teu pai é o mais alto e forte de todos?
-Sim, é o maiooor.
-E ele protege-te e defende-te? (momento psicologia barata para mães babadas)
-Não mamã, o meu papá não é bom a guarda-redes. É ...melhor a marcar golos. (Pragmatismo infantil. What else???"
Um golinho de água? Mãe, só há uma, e é fresca!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Boa!

A PT doou parte dos lucros das chamadas de valor acrescentado à Caritas. Afinal têm um coraçãozinho de ouro... Era o mínimo, certo???! Muito bem, palmadinhas nas costas de vossas excelências. Espero que o governo venha dizer que também abdica do IVA!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Contacto imediato de 3º grau com o espelho

Dona Mindinho concebeu-se em pensamentos de cabeça inadaptada a um mundo a preto e branco. Havia de surgir uma criatura que vivesse numa paleta mais completa, de preferência com mais dias em verde-limão do que cinzento-rato.
Aquela mulher adulta que a inventou nunca quis, nas horas de Mindinisse, ser um Peter Pan de unha vermelha e vestido, nem a avózinha meiga que cheira sempre a creme hidratante misturado com bolinho quente. Quis ser mais, não ter idade, ser plena, ou quase.
Dona Mindinho criou-se mesmo antes de nascer. Já conhecia o mundo, o mundo jamais a conheceu.
Escolheu o Dia dos Enganos para surgir. Passou de lado num espelho e sentiu-se corar. Uma paixão nascia dentro do peito. Aquela mulher do outro lado que sorria com deliciosa malícia era mesmo o que ela queria ser. Parecia-se tanto com ela, no entanto era mais firme, mais mulher, mais isto, mais aquilo. Ou talvez não. Aquela mulher só tinha um brilho nos olhos diferente. Conheceu-se assim, reconheceu aquele brilho como sendo o seu de há uns anos. O desmazelo, as derrotas e não conquistas levaram-no e já todos esperavam dela um olhar baço e que atende aos desejos e vontades de todos.
Em segredo, diante daquele espelho meio turvo das lágrimas por se sentir viva, fez nascer Dona Mindinho: uma mulher apaixonada por si e pela vida, nas horas vagas, uma heroína com TPM.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Um país que é uma sarabudja?!

Aconteceu uma verdadeira catástrofe na Madeira. Há mortos para enterrar, há vidas inteiras enterradas na lama e escombros.
Nós portugueses somos um povo verdadeiramente solidário com este tipo de causas.
Formas de contribuir para reconstruir a Madeira têm aparecido como cogumelos. E há uma que questiono: um número de valor acrescentado para arrecadar dinheiro.
O que me intriga é o seguinte, e perdoem-me a ignorância:
Se telefonarmos para o dito número, pagamos 60 cêntimos mais IVA, no entanto só 50 cêntimos são encaminhados para o projecto solidário. Pergunto eu: e os outros 10 cêntimos????? E por que razão não prescinde o governo do valor do imposto??
É impressão minha ou, mesmo diante dos nossos olhos e boa vontade, alguém até lucra com esta desgraça? Se isto não é caso para indignação, então com que é que me indigno?
Ah! Já sei, há outra questão que me tem deixado em polvorosa.
No outro dia li numa revista uma crónica de um jornalista que dizia que nunca, em quase 36 anos de liberdade e democracia, o país teve tanta largueza de expressão. Justificou-se dizendo que se escreve o que se quer e que se chamam os bois pelos nomes. Juro que não reconheci naquele artigo o uso da ironia. - e eu costumo ser boa nisso-.
É lógico e muito evidente que não há lápis azul, não há polícia política e o Tarrafal é hoje um maravilhoso destino de férias. As mordaças são outras. Gozam com a nossa sobrevivência, a nossa dignidade, o nosso trabalho.
Este senhor, de quem sequer registei o nome - até porque o que menos interessa é dar-lhe um nome- não vive no meu país democrático e livre onde um desgraçado que trabalha das 8 às 18h tem que guardar dentro de si pensamentos e opiniões para continuar a ter emprego. O mesmo desgraçado não pode ser um pai atento e querer participar na vida quotidiana do filho e acompanhá-lo em consultas de rotina, ficar com ele quando está doente, para não perder o emprego.
Este desgraçado que é um trabalhador por conta de outrem não pode ser uma mulher, em idade fértil e com a ideia romântica de ter filhos, não vá o outrem não gostar destas coisas românticas e fazer da senhora grávida uma estatística dos centros de desemprego, sim, de desemprego!
Neste país que apaga 36 velas de vida em liberdade e democracia o meu filho não pode frequentar o ensino público - que deve ser gratuíto e acessível a todos-, porque os pais e avós quase nunca conseguem cumprir os horários estipulados para fecho das escolas. Deixo-o então todos os dias numa escola privada, onde deixo todos os meses parte do meu salário.
Saímos à rua e libertamos frases de desagrado, de contestação e de frustração, é certo. Frases que não são ouvidas. Somos ignorados. Liberdade de expressão pressupõe um elemento que ouve, retém a informação, responde, discute para chegar a um melhor caminho. Aquele país democrático e livre do senhor que é jornalista não é o meu.

Se não me indigno com isto, indigno-me com o quê?
Ah! Já sei, com tantas coisas, porém já me lateja uma veia na cabeça. O melhor é relaxar porque não tenho nenhum tipo de seguro de assistência médica. Estou entregue aos cuidados do Sistema Nacional de Saúde e isto não é Gripe A, quando muito um principio de AVC, mas isso não é contagioso.
Isto é um país ou só uma verdadeira Sarabudja?

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Para esta primeira meia dúzia de anos juntos

Sucedeu assim
Composição: Antonio Carlos Jobim / Marino Pinto

Assim,
Começou assim
Uma coisa sem graça
Coisa boba que passa
Que ninguém percebeu

Assim,
Depois ficou assim
Quis fazer um carinho,
Receber um carinho,
E você percebeu

Fez-se uma pausa no tempo
Cessou todo meu pensamento
E como acontece uma flor
Também acontece o amor

Assim,
Sucedeu assim,
E foi tão de repente
Que a cabeça da gente
Vira só coração
Não poderia supor
Que o amor nos pudesse prender,
Abriu-se em meu peito um vulcão
E nasceu a paixão.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Dona Mindinho

Quando se deu o acontecimento, a vila não estava preparada para o que se seguiu. Os dias cinzentos não podiam continuar iguais após a curiosa descoberta.
Dona Mindinho desvivera. Esta desistência não é estranha em si, mas por si.
Senhora com mais de 90 anos e desistira agora? Algo sinistro se passou.

Dona Mindinho fora registada e até baptizada com nome de pessoa. Viveu apessoada até aos 31 anos, idade em que resolveu baptizar-se na banheira de hidromassagem da casa onde vivia.
Porque escolheu ser Mindinho, Dona Mindinho nunca ninguém soube. Na verdade, nunca ninguém soube que se reregistara. Acreditavam que nem sempre respondia pelo nome que o pai lhe dera por surdez, coisa que vinha dos tempos de infância.
Um dia entre soluços de grande tristeza decidiu afogar o seu nome junto com a sua história.

Não escolheu levar para essa vida além vida, porém levou-os também. Os seus olhos castanhos de auréola cinzenta. No entanto reformulou a capacidade de ver.
Mudou as roupas, levantou as pestanas, que lhe turvavam a vista, escolheu novo penteado.
Assim nasceu Mindinho, Dona Mindinho - faça o favor.

sábado, 9 de janeiro de 2010

1º de 2010

"Sonhar é acordar-se para dentro."
Mário Quintana

Sopros de que possas sentir-te acordado por dentro muitos dias deste ano, muitos dias nesta vida.
Fecha o livro. Guarda na memória o que deve ser guardado. O que achares que não te ensina, esquece para teres espaço para melhores coisas.
É incrivelmente óbvio, quase ridículo,mas garanto-te que tens rugas na testa porque te esqueces disto.