segunda-feira, 27 de junho de 2011

O amor não pede licença, não faz cerimónia. Instala-se e convive paredes meias com tudo o que por cá dentro andava. Com tudo o que foi semeado, que cerimoniosamente foi entrando.
O amor não precisa de porta aberta nem de janela encostada. Entra desavergonhadamente sem pedir licença. Instala-se e damos mais de nós, somos mais de outros. O mundo passa a ser casa de quem tem amor.
Uma vez vi o amor entrar numa vida. Como todo o amor, entrou e não se anunciou; foi sentido como os ventos da Bolanha (despertam dias, adormecem cansaços).
Dessa vez vi a vida com amor. Coisa não anunciada, mas tão bem amada.
A falta de modos do amor faz a vida mais prazenteira. Dias que correm, conversas em tons cereja, beijos de olhos fechados e abraços.
O amor não pede licença, não faz cerimónia. Instala-se, mas nem sempre pousa a mala. Convive com tudo o que por cá dentro andava, transforma parte e parte.

A vida entra cerimoniosamente num outro compasso.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Mini-Crónicas de uma criatura com três palmos

Fechou a porta com a doçura que lhe era natural.
Encostou-se, deixou-se escorregar. Cena de cinema de domingo à tarde.
Tal criatura não se podia dar à vulgaridade de protagonizar cena de filme para massas.
Levantou-se, limpou a cara como se só o vento a tivesse feito chorar.
O frio foi carrasco dos braços nus e dos pés descalços.
Ficou ali. Deixou que a noite a castigasse. Abraçou-se. Soluçou baixinho e engoliu a vontade de mal dizer da vida.
Escolheu a lua grande e branca para lhe adivinhar pensamentos.
Sacudiu a ousadia de se sentir triste e sorriu de pirraça para o céu.