terça-feira, 21 de julho de 2009

Para os 4 anos do meu filho


São tantas as coisas que tenho para dizer que me custa escolher a primeira.

Já escrevi e apaguei mais do que muitas vezes, já tive um conjunto de frases perfeito na minha cabeça que entretanto substituí por aquelas que apaguei.

Escrever qualquer coisa para o meu filho é muito dificil, tem sido teimosamente dificil escrever qualquer coisa para ele, sobre ele. É a música que fala dos olhos dele que não passa da primeira frase, é o textinho para o quadro de cortiça do quarto que nunca passou da primeira letra.

Penso que não ter inspiração à altura de tamanho amor e outros sentimentos. Não não tenho. Queria ter um dia o brilhantismo de saber descrever os olhos, o sorriso, o brilho, esta infinita capacidade de amar para além do amor, de compreender o que nos outros desentendo e o dar colo mesmo em dias de pouca força.

No outro dia apagou quatro velas de um bolo cor de céu,decorado com nuvens brancas fofas e doces e balões de muitas cores. Todos, mesmo quem cá não está, cantaram para ele. O meu coração de mãe agigantou-se e transformou alguns sonhos em realidade. Mas só alguns, porque é muito bom sonhar.

Encontrei estas palavras de alguém que sabe o que eu sinto, não sei como é que ele sabe (?), sei só que ele sabe.

"Carta para meu filho Madyo Dawany
Hoje cheguei e não havia o teu sorriso reconfortando-me. Fiquei triste e sem coragem como se fosse do teu tamanho, assim pequenino. Não é possível tu estares comigo e isso rouba-me o coração.
Este desejo de te querer junto a mim é um desejo egoísta, eu sei. Quero isso mais por mim que por ti. Quando te escrevo é mais para mim do que para ti.
Faço-te esta confissão de egoísmo para que saibas, meu filho, que te amo de todas as maneiras que sei amar. E mesmo assim sinto que não sei amar, que me falta estar vivo. Saberás do que falo quando desvendares alguns mistérios do mundo. Assim crescerás à medida do teu sonho. Quero que respeites esta insuficiente maneira de amar dos homens do meu tempo. E que ames tudo aquilo que os homens antes de ti construíram por amor a outros homens, mesmo que o tenham feito incompletamente. E que recordes que por trás de cada coisa transformada há sempre uma gota de sangue: tudo resulta da luta, mesmo que essa luta tenha sido apenas interior e aparente.
Sentirei que a minha vida se desdobra como a onda que mesmo desfeita se renova. Sentir-me-ei como a onda que sabe que depois de desfeita se prolongará no eterno movimento dos homens lutando e construindo por amor aos outros que nem sequer conhecem." Mia Couto

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